Tombo, greve, briga e pouco futebol: França perde sua batalha na África
Jornada dos Bleus na Copa do Mundo de 2010 começa com empate sem sal, passa por boicote em treino e termina com mais uma eliminação frustrante

Raymond Domenech já chegou à Copa como rei morto, sabendo que após o Mundial sua coroa será entregue a Laurent Blanc. Com data de vencimento definida na carteira de trabalho, o futuro ex-técnico dos Bleus relaxou. Botou o elenco para treinar na Ilha Reunião, um paradisíaco território francês no Oceano Índico, ao lado da África.

passeio da seleção francesa (Foto: Reuters)
Foi nessa saída inocente que Anelka levou seu primeiro tombo. Literalmente: caiu de quatro no asfalto, pagou cofrinho e, por incrível que pareça, este acabou sendo um dos seus melhores momentos na Copa.
Capítulo 2: Igualdade
Se a lei é igual para todos, Thierry Henry teve sua capa de craque arrancada e foi tratado como qualquer mortal na caminhada francesa. Até pela polícia. O homem que deu uma mãozinha para colocar a França na Copa teve seu par de chuteiras confiscado pela Alfândega sul-africana e só recebeu os pisantes a menos de uma hora da estreia contra o Uruguai. Acabou usando pouco, durante 20 inoperantes minutos.

Os jogadores pediram Henry no time titular, e até Zidane cornetou Domenech, mas o técnico seguia irredutível, e tudo continuou igual. Inclusive o mau futebol.
Dos 23 convocados franceses, só um é de Escorpião – o zagueiro Reveillere, que só fez figuração. Maníaco por astrologia, o treinador não costuma chamar ninguém deste signo. Deixou Pires fora da Copa de 2006 alegando que, por natureza, escorpiões acabam matando uns aos outros. Por esta teoria, jamais teria em suas fileiras gente como Pelé, Garrincha e Maradona, os três nascidos no fim de outubro. Domenech, portanto, levou à África do Sul um grupo totalmente desprovido de veneno. Fraternidade em estado puro.
A primeira prova disso veio no intervalo do jogo contra o México, derrota por 2 a 0. Ao receber a notícia da substituição, Anelka, que é de Peixes, perdeu a linha e despejou palavrões na direção do chefe. Insultos proferidos justamente pelo protegido do técnico, que jogou o leonino Henry para o banco e sequer convocou o sagitariano Benzema.

crise sem fim na seleção francesa (Foto: EFE)
Na entrevista coletiva, o capitão Evra decretou: “O problema maior não é Anelka, e sim o traidor que está conosco”. Fato é que o atacante foi cortado, e o grupo se rebelou. No dia seguinte, greve no treino, Gallas mostrando o dedo para os jornalistas, e um áspero bate-boca entre Evra e o preparador físico Robert Duverne, que só não acabou no braço porque Domenech separou os dois.
Capítulo 4: Foi assim que Domenech perdeu a guerra
Depois de se transformar no maior barril de pólvora da Copa do Mundo, a França precisava de um milagre para garantir a classificação na terceira rodada. Era preciso vencer a África do Sul por uma boa diferença de gols e ainda torcer para que uruguaios e mexicanos não combinassem o empate de compadre que mandaria os dois direto para as oitavas de final.
Pois o exército de Domenech não conseguiu cumprir nem o seu papel. Perdeu para os donos da casa por 2 a 1 e se despediu do Mundial de forma melancólica, com apenas um gol em duas derrotas e um empate. O treinador, que sequer cumprimentou Carlos Alberto Parreira após a partida, ao menos tem um consolo: com o fim do ciclo na seleção, ele vai perseguir escorpianos em outra vizinhança. A partir de agora, Laurent Blanc que se vire.

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